INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E SINGULARIDADE
AGENCIAMENTOS SOCIOTÉCNICOS E
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA:
Delineando Percursos
A discussão em torno da mediação das tecnologias na sociedade contemporânea vem crescendo bastante nos últimos anos, mobilizando pesquisadores de distintas áreas do conhecimento que buscam construir um sentido diferenciado para a relação entre esses aparatos tecnológicos e culturais e as suas tensões no cotidiano e na subjetividade dos sujeitos que interagem fortemente com estes agenciamentos sociotécnicos.
Para além dos pesquisadores, encontramos também comunidades de fãs que são mobilizados pelas narrativas, normalmente distópicas, disponíveis em livros, séries, filmes, jogos, etc. que sentem necessidade de discutir as teorias por traz dessas histórias, criando muitas vezes outras ramificações e leituras.
Desde do filme Metropolis (1927), de Fritz Lang, vemos o cinema ser invadido por histórias de ficção científica, nas quais a relação homem/máquina surge de forma apocalíptica e de dominação dos homens pelas máquinas, alimentando nos imaginários dos indivíduos a ideia de que o processo de evolução da inteligência das máquinas pode nos levar a ser prisioneiros nesse cenário sempre insólito. Para além, dessas fantasias e medos, os pesquisadores têm o compromisso de desmistificar essa relação analisando o fenômeno sob distintos pontos de vista.
É esse o desafio dos pesquisadores no livro Ecologia Transhumana: Inteligência Artificial e Singularidade, organizado pelos pesquisadores Ricardo e Dinani Amorim, Luciano Bonfim, Juracy Marques, Helinando Oliveira, Carlos Gonçalves e Marcelo Ribeiro, o livro conta com seis capítulos que trafegam por discussões como aprendizagem de máquina, Internet das coisas, cenários distópicos e utópicos, engenharia comportamental no universo das redes, dentre outros que são considerados essenciais para o momento em que estamos vivendo, no qual esse imbricamento homem/máquina precisa ser aprofundado e atualizado possibilitando um novo significado para a ecologia cognitiva discutida por Lèvy (1993) no início dos anos 90, bem como para inteligência artificial discutida no final dos anos 60 por Minsky e Papert (1969).
Assim, o livro inicia com o capítulo De Macacos a Deuses: A Ecologia das Máquinas Humanas e o Futuro da Humanidade de autoria de Juracy Marques, no qual somos desafiados a compreender o conceito de transhumanismo no delineamento de uma ecologia humana para o futuro no qual homens e máquinas tornam-se parceiros de uma jornada que vai além de aspectos cognitivos e procedimentais.
O segundo capítulo denominado Máquinas Podem Pensar? Caminhos da Inteligência Artificial, de autoria de Ricardo Amorim e Dinani Amorim, iniciamos por uma jornada histórica que ajudam a compreender o processo evolutivo dessas máquinas na sociedade contemporânea.
A internet faz parte da vida de todos seres humanos, inclusive das crianças que desde cedo aprendem que “se você não sabe, procura no YouTube”. O capítulo A Internet das Coisas – Monitoramento dos Desejos e Comportamentos Humanos de autoria de Helinando Pequeno de Oliveira, vai discutir de forma contextualizada um conceito muito importante no cenário atual: IOT – A Internet das Coisas. Tal conceito foi introduzido em 1999 por Ashton, mas nos últimos anos vem ganhando espaço para além do cenário acadêmico. Dentro dessa discussão Oliveira traz uma reflexão fundamental – sobre as questões éticas diante da facilidade de acesso aos dados particulares dos usuários pelos serviços vinculados a onipresente Internet.
Luciano Bomfim com sua formação em filosofia/sociologia vai discutir A Ontologia Humana x Ontologia das Máquinas, no capítulo quatro, dialogando com as contribuições de Marx. Conseguiremos derrubar essas dicotomias? Convido o leitor a ler o capítulo e construir a sua compreensão sobre a relação dicotômica apresentada pelo autor.
No capítulo cinco, Carlos Gonçalves nos convida a pensar as tensões que emergem quando nossa liberdade atua também como instrumento de perda deste direito, especialmente situada no contexto da relação homem / máquina. Assim, no texto De Matrix ao Facebook: Hacking Mental e Engenharia Comportamental nas Redes Sociais. E o Direito com isso? o autor nos leva a refletir e pensar sobre tais questões.
No capítulo seis, o olhar da psicologia marca o texto A Ecologia do Vir a Ser Humano: uma Perspectiva Psicológica dos Cenários Distópicos e Utópicos, de autoria de Marcelo Silva de Souza Ribeiro. O autor discute a emergência do pós-humano navegando em cenários distópicos e utópicos, norteando uma trilha para compreendermos a ecologia do vir a ser humano pelo viés da psicologia.
A obra aqui apresentada traz a implicação e compromisso dos pesquisadores envolvidos que cotidianamente constroem sentidos para compreender a ecologia humana na sociedade contemporânea. O livro se constitui em uma leitura fundante para pesquisadores, aluno de pós-graduação e graduação, bem como demais interessados em compreender o fenômeno das tecnologias digitais e contemporâneas nos distintos cenários.
Salvador, 20 de Junho de 2018.
Lynn Alves