Quem nunca leu ou ouviu a frase do poeta, jornalista, filósofo e político cubano José Julián Martí Pérez (1853-1895)? “Na vida, cada pessoa deve fazer três coisas: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro”. Em um momento pandêmico, no qual se faz presente a necessária reflexão sobre a vida e a morte, tal dito se torna ainda mais simbólico. É com essa introdução que tenho a satisfação de falar deste livro, destacando a importância da diversidade de registros do momento complexo que a humanidade está vivenciando, a partir do aparecimento do novo Coronavírus, o SARS-CoV-2.
Em um tempo em que o verbo viralizar ganhou tanta relevância, principalmente no contexto das redes sociais, eis que surge um vírus de uma família já conhecida, a qual vinha ensaiando disparar um processo capaz de paralisar o mundo dos seres humanos. Em 2002 um Coronavírus deixou a população da Terra alarmada com os riscos de uma pandemia mortal, porém a Síndrome da Angústia Respiratória Grave (SARS) atingiu aproximadamente 8000 pessoas, levando a óbito em torno de 800 e “desapareceu” em 2004. A vacina contra aquele coronavírus estava adiantada, mas sem novos casos, pra que gastar dinheiro com isso? Com o surgimento do novo Corona- vírus, acredita-se, no final de 2019, viu-se o quanto seria importante uma vacina, existente, que pudesse encurtar o caminho para uma solução na atual circunstância. O SARS-CoV-2 é extremamente virulento, altamente contagioso e capaz de sobrecarregar os sistemas de saúde, favorecendo significativa perda de vidas.
De fato, espera-se que a parada obrigatória sirva para grandes reflexões e ressignificações do nosso modus de vida. Estávamos cor- rendo tanto para que? O nosso estilo de vida é tão voltado ao consumo que mesmo em isolamento físico estamos trabalhando mais do que nunca? Sairemos melhores enquanto “gente” depois disso tudo? Ou voltaremos ao mesmo modelo que nos consumia para consumir- mos toda sorte de produtos?
Os autores, em seus olhares aguçados, frente aos desafios inerentes ao durante e ao pós-pandemia apontam para reflexões funda- mentais. O mundo já estava em crise antes da COVID-19 virar notícia, expondo, de maneira irrefutável, a falência do modelo neoliberal, voltado a acumulação financeira, o qual privilegia pequenos grupos abastados e leva a extrema maioria das pessoas à miséria, em todo o mundo. Apostaria com muita vontade em uma mudança de modelo econômico para dividirmos mais o bolo e vivermos em harmonia com a natureza que tanto maltratamos. O meio ambiente vem agradecendo a redução de atividades humanas e se recuperando de tantas agressões sofridas. Estava na hora de pararmos pra pensar nisso? Ou já estávamos fora do compasso e fomos parados para que observássemos o que estávamos fazendo?
Neste livro somos informados que o Homo sapiens tem 300.000 anos de existência e ainda não se percebeu mortal. A pandemia provocada pelo novo Coronavírus e o número de casos e óbitos da COVID-19 revelou muito sobre a nossa espécie. A arrogância e a ignorância hoje tem voz e se sentem a vontade para favorecer o obscurantismo e o negacionismo, nitidamente observados pelos com- portamentos de governantes, no mundo, que minimizaram o problema, rumando contra a ciência. Que fique claro de uma vez por todas: não é uma gripezinha!
É indefensável que em nosso País, o Brasil, estejamos sem Ministro da Saúde em plena pandemia. É irresponsável prescrever medicamentos sem que haja comprovação científica da sua eficácia com a promessa de prevenção ou de não progressão da COVID-19, para sua forma mais grave e cruel. Ninguém é capaz, hoje, de determinar quem poderá ter a forma grave da doença, portanto, prescrever medicamentos para as finalidades acima citadas, a serem utilizados por pacientes que podem estar entre os 80% que cursarão assintomáticos ou com sintomas leves é fazer placeboterapia.
O vírus sem o homem não é nada! A nossa desigualdade social está com as vísceras expostas em cada homem e cada mulher que precisam sair de casa para obter, a cada dia o que comer. Nesse con- texto, essa obra indica o caminho, longo e difícil a ser percorrido. É necessário ter agenda para o futuro, baseada em mais educação, com autonomia e empoderamento dos indivíduos, em uma visão Freiriana, na busca de uma sociedade menos injusta. É preciso entender que preservar os ecossistemas é, na verdade preservar a humanidade, informação valiosa presente nos bem dimensionados capítulos e nas reflexões dos autores desse livro.
Confesso não estar muito otimista sobre mudanças significativas quando a pandemia passar e, mais uma vez, ficará para os mais jovens e nascidos em meio às novas tecnologias e imersos nas redes sociais, o desafio de ser e fazer diferente. Que a vacina ou um medicamento verdadeiramente eficaz possam chegar logo para conhecermos o que será essa “nova humanidade”.
Como é possível perceber, recomendo veementemente a leitura desse livro que como já mencionei, é fundamental, reflexiva, diversa e científica. Parabenizo os autores e desejo muito sucesso na caminhada por um mundo sustentável, ecológica e humanamente melhor.