A Sociedade Brasileira de Ecologia Humana – SABEH, ao longo dos sete anos de sua existência tem enveredado esforços no sentido de reunir pesquisadores, comunidades tradicionais, instituições públicas, privadas e do terceiro setor no sentido de articular e fazer mover-se um conjunto de ações para o efetivo exercício do que convencionamos denominar de Ecologia Humana. Nesse contexto, poderíamos começar perguntando: o que é a Ecologia Humana?
Em primeiro lugar, é preciso se dizer que a lente com a qual a Ecologia Humana examina as relações do homem com a natureza não é unidimensional; muitas matizes epistemológicas reivindicam para si o estatuto desse campo de conhecimento. Tais matizes, assumiram e continuam assumindo desdobramentos bastantes heterogêneos, a exemplo dos fundamentos da Escola de Chicago nos EUA, centrados nas diferenciações sociais intra e interurbana; dos esforços vindos do velho continente (círculo europeu de Ecologia Humana) que se inclina para as relações de interdependência entre o homem e o meio, e aquelas ligadas ao continente sul-americano que, de certa forma, levando em conta a enorme diversidade de dimensões analíticas, reflete o conjunto das matizes já enunciadas.
No Brasil, como bem reconhece Bonfim no livro As raízes da Ecologia Humana (2017), há uma certa unidade e diversidade pulsante nos estudos da Ecologia Humana, principalmente, aquelas que partem de concepções “políticas e humanísticas”, com ênfase na ideia de ética, tomada como um todo. Leia-se o binômio Político e Humanístico é interdependente, ou seja, conhecimentos, predominantemente estruturados conjuntamente e não separadamente. Assim, simplificadamente, poderíamos dizer que a Ecologia Humana estuda o homem como um ser da e na relação sociedade-natureza, numa concepção em que a ideia de ecossistema assume uma dimensão multidimensional na qual animais, vegetais e minerais, com toda sua complexidade, interagem de forma interdependente.
Dr. Sérgio Luiz Malta de Azevedo Dra. Maria do Socorro Pereira de Almeida
Ademais, é louvável os esforços pioneiros do grupo de estudiosos da Universidade do Estado da Bahia, sediados no Campus VIII em Paulo Afonso/BA. Que teve à frente, no primeiro momento, o Professor Juracy Marques com sua arguta capacidade acadêmica, e ávido por conhecer os rincões do rio São Francisco. O aludido professor não poupou esforços no sentido de colocar em funcionamento, há cerca dez anos, as atividades do Programa de Pós-graduação em Ecologia Humana e Gestão Sócio Ambiental, hoje vinculado à UNEB de Juazeiro/BA (DTCS – III) que, sob a liderança do Dr. Carlos Alberto, somados aos esforços de muitos colaboradores, conquistou, recentemente, o Doutorado, considerado o único da América latina no campo da Ecologia Humana.
Note-se que, anteriormente e posteriormente ao referido período, muitas outras iniciativas foram desenvolvidas. Destacamos aqui a criação da Sociedade Brasileira de Ecologia Humana - SABEH que, sob a batuta de Alzení Tomáz, sempre atenta a questões da Ecologia Humana, em especial, as causas das comunidades tradicionais, ribeirinhas do rio São Francisco; em muito vem contribuindo com a difusão de saberes no aludido campo de conhecimento, apoiando as ações do programa. Igualmente importante, é a contribuição da SABEH para criação da Rede Latino Americana de Ecologia Humana. Recentemente, consolidou um trabalho bem-sucedido de articulação interinstitucional de âmbito internacional, a partir dos esforços da RELAEH entre várias instituições que labutam no campo da Ecologia Humana, principalmente na escala da América Latina. Assim, em 19 de outubro de 2019, em Assunção, Paraguai, foi fundada a SOLAEH – Sociedade Latino Americana de Ecologia Humana. Dessa forma, novos desafios, novos percursos são interpostos para os Ecólogos Humanos da América latina nas suas interações com outras instituições, sociedades acadêmicas, redes e associações pelo mundo.
Nesse sentido, a criação da editora da Sociedade Brasileira de Ecologia Humana acabou por ocupar lugar central, inclusive, para difusão e internacionalização dos saberes e fazeres da Ecologia Humana. Dessa forma, este volume da Revista bem exemplifica tais esforços.
Se pudéssemos recorrer a uma metáfora contextual deste volume, lembraríamos de uma viagem, daquelas que você percorre grandes distancias, nas quais os momentos vividos são fluidos e a sensação que aflora é daquelas de que o sujeito vive num movimento efemeramente entrecortado por momentos que aqui chamo de lugaridades transitórias, entre o tudo e o nada. O tudo porque os lugares percorridos são natus; densos de vida, de ecologias, de estruturas materiais, marcadas muito mais pelas contradições do que pelo consenso; aliás, vivemos a sociedade do infortúnio e da incompreensão. Por outro lado, lembramos a imaterialidade das representações sociais que, pensadas conjuntamente, desencadeiam contextos inimagináveis a um passante e ao vazio do nada, pelos limites da imaginação, de um transportado que especula, tenta conhecer e reconhecer a si mesmo na relação com o outro, na ignorância e na generalidade do ser e do estar no mundo.
O conhecimento grita, entretanto, a ação como processo social efetivo não responde, mas sejamos confiantes no bom combate, o combate do confronto de ideias, do respeito às diferenças no mundo das coisas e dos homens. Confiantes no humano e na ideia de ecologia, desejamos uma fértil leitura a todos!
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